São Bernardo do Campo, 29-10-13
Caro leitor,
Às vezes , fico pensativa.Imagino o motivo de ocorrer tanta guerra no mundo.Será por causa de posses ou só para mostrar "quem está no comando"? Quando todos irão acordar e perceber o quão inútil elas são? Quando irão notar que as guerras não servem para nada? Quando irão ver que a vida é muito mais que um simples conflito entre países que não querem ceder para não perder o poder tão desejado? E o mais importante: Quando vão reconhecer que a paz é o melhor caminho? O mundo vai bem além disso! Basta abrir os olhos e perceber o quão maravilhoso ele é ! Imagine só ! Um planeta onde todos tivessem direitos iguais e nenhuma guerra destruiria a alegria de uma simples criança. Esse sim é o lugar dos meus sonhos.Quero ver todos com um sorriso no rosto, agora devolvidos às pessoas que sofreram com a perda de familiares, mortos pelas guerras. Um lugar onde paz e alegria fossem lei, e que simplesmente o amor prevalecesse no mundo todo.
- Alana Monteiro
Amor pela leitura
segunda-feira, 11 de novembro de 2013
O ato de ler !
O ato de ler é uma arte e também é prazeroso, mas só basta querer e aprender . Rumo às primeiras linhas de um livro ,nos colocamos a pensar no quão magnifica será a historia e em poucos parágrafos você já se encontra em um universo paralelo , um universo só seu ! O caminho para a leitura é mágico , nos leva a lugares desconhecidos ou até conhecidos , mas nunca vistos por outro ângulo. Ler é viver e reviver diferentes histórias !
terça-feira, 22 de outubro de 2013
Heróis combatendo o Bullying!
O Bullying é um problema que vem crescendo a cada dia , principalmente nas escolas. E foi pensando nisso que , com o auxílio de professores e baseando-se no livro " Todos contra Dante " de Luís Dill, produzimos uma campanha denominada "Todos contra o Bullying!" .Confira abaixo o nosso trabalho e conscientize-se de que nunca se deve praticar o Bullying!
P.S. : Clique na tirinha para poder visualizá-la melhor!!
P.S. : Clique na tirinha para poder visualizá-la melhor!!
Tirinha :
segunda-feira, 21 de outubro de 2013
Literatura em vídeo
Baseado no conto de Clarice Lispector , Feliz aniversário , meu grupo de Língua Portuguesa produziu um curta metragem de aproximadamente 2:43 minutos , onde foi feito uma releitura do conto. É necessário lê-lo, pois, caso contrário, não conseguirá entender a releitura.
Biografia e Crônica de Luís Fernando Verríssimo
Luís Fernando Verríssimo
Luís Fernando
Verríssimo nasceu em Porto Alegre, no
Rio Grande do Sul, no dia 26 de Setembro de 1936. Seus pais eram o escritor Erico
Verríssimo e Mafalda Halfen Volpe. Em 1956 , começou a trabalhar na editora
Globo, no departamento de arte. Em 2003,
seu livro “Clube dos Anjos” foi escolhido pela New York Public Library, um dos
25 melhores livros do ano. Também recebeu o prêmio Juca Pato e foi considerado
o Intelectual do ano pela União Brasileira de escritores 1997.
Minhas Férias
Eu, minha mãe, meu pai, minha irmã (Su) e meu cachorro (Dogman) fomos
fazer camping. Meu pai decidiu fazer camping este ano porque disse que estava
na hora de a gente conhecer a natureza de perto, já que eu, a minha irmã (Su) e
o meu cachorro (Dogman) nascemos em apartamento, e, até cinco anos de idade,
sempre que via um passarinho numa árvore, eu gritava “aquele fugiu!” e corria
para avisar um guarda; mas eu acho que meu pai decidiu fazer camping depois que
viu os preços dos hotéis, apesar da minha mãe avisar que, na primeira vez que
aparecesse uma cobra, ela voltaria para casa correndo, e minha irmã (Su)
insistir em levar o toca-disco e toda a coleção de discos dela, mesmo o meu pai
dizendo que aonde nós íamos não teria corrente elétrica, o que deixou minha
irmã (Su) muito irritada, porque, se não tinha corrente elétrica, como ela ia
usar o secador de cabelo? Mas eu e o meu cachorro (Dogman) gostamos porque o
meu pai disse que nós íamos pescar, e cozinhar nós mesmos o peixe pescado no
fogo, e comer o peixe com as mãos, e se há uma coisa que eu gosto é confusão.
Foi muito engraçado o dia em que minha mãe abriu a porta do carro bem devagar,
espiando embaixo do banco com cuidado e perguntando “será que não tem cobra?”,
e o meu pai perdeu a paciência e disse “entra no carro e vamos embora”,, porque
nós ainda nem tínhamos saído da garagem do edifício. Na estrada tinha tanto
buraco que o carro quase quebrou, e nós atrasamos, e quando chegamos no lugar
do camping já era noite, e o meu pai disse “este parece ser um bom lugar, com
bastante grama e perto da água”, e decidimos deixar para armar a barraca no dia
seguinte e dormir dentro do carro mesmo; só que não conseguimos dormir, porque
o meu cachorro (Dogman) passou a noite inteira querendo sair do carro, mas a
minha mãe não deixava abrirem a porta, com o medo de cobra; e no dia seguinte
tinha a cara feia de um homem nos espiando pela janela, porque nós tínhamos
estacionado o carro no quintal da casa dele, e a água que o meu pai viu era a
piscina dele e tivemos que sair correndo. No fim conseguimos um bom lugar para
armar a barraca, perto de um rio. Levamos dois dias para armar a barraca,
porque a minha mãe tinha usado o manual de instruções para limpar umas porcarias
que meu cachorro (Dogman) fez dentro do carro, mas ficou bem legal, mesmo que o
zíper da porta não funcionasse e para entrar ou sair da barraca a gente tivesse
que desmanchar tudo e depois armar de novo. O rio tinha um cheiro ruim, e o
primeiro peixe que nós pescamos já saiu da água cozinhando, mas não deu para
comer, e o melhor de tudo é que choveu muito, e a água do rio subiu, e nós
voltamos pra casa flutuando, o que foi muito melhor que voltar pela estrada
esburacada; quer dizer que no fim tudo deu certo.
Biografia e Crônica de Rubem Braga
Rubem Braga
Rubem Braga
nasceu em Cachoeiro do Itapemirim, Espírito Santo , no dia 12 de Janeiro de
1913. Iniciou seus estudos na cidade de Natal.
Em 1952 ,
escreveu suas primeiras crônicas para o jornal “Correio do Sul”. Nos meados de
1932, Rubem Braga começou a cobrir a Revolução Constitucionalista, que tinha
como objetivo derrubar o governo de Getúlio Vargas, o que resultou em prisão e
em várias mudanças de Estado no Brasil. Rubem Braga faleceu no Rio de Janeiro ,
no dia 9 de Dezembro de 1992.
Valente menina
Debruçado cá em cima, no 13.° andar, fiquei olhando a porta
do edifício à espera de que surgisse o seu vulto lá embaixo.
Eu a levara até o elevador, ao mesmo tempo aflito para que ela partisse e triste com a sua partida. Nossa conversa fora amarga. Quando lhe abri a porta do elevador esbocei um gesto de carinho na despedida, mas, como eu previra, ela resistiu. Pela abertura da porta vi sua cabeça de perfil, séria, descer, sumir.
Agora sentia necessidade de vê-la sair do edifício, mas o elevador deve ter parado no caminho, porque demorou um pouco a surgir seu vulto rápido. Desceu a escada fez uma pequena volta para evitar uma poça de água, caminhou até a esquina, atravessou a rua. Vi-a ainda um instante andando pela calçada da transversal, diante do café; e desapareceu, sem olhar para trás.
"Valente menina!" — foi o que murmurei ao acaso lembrando um verso antigo de Vinicius de Moraes; e no mesmo instante me lembrei também de uma frase ocasional de Pablo Neruda, num domingo em que fui visitá-lo em sua casa de Isla Negra, no Chile. "Que valientes son las chilenas!" dissera ele, apontando uma mulher de maiô que entrava no mar ali em frente, na manhã nublada; e explicara que estivera andando pela praia e apenas molhara os pés na espuma: a água estava gelada, de cortar.
"Valente menina!" Lá embaixo, na rua, era tocante seu pequeno vulto, reduzido pela projeção vertical. Iria com os olhos úmidos ou sentiria apenas a alma vazia? "Valente menina!" Como a chilena que enfrentava o mar, em Isla Negra, ela também enfrentava sua solidão. E eu ficava com a minha, parado, burro, triste, vendo-a partir por minha culpa.
Deitei-me na rede, sentindo dor de cabeça e um certo desgosto por mim mesmo. Eu poderia ser pai dessa moça — e me pergunto o que sentiria, como pai, se soubesse de uma aventura sua, como essa, com um homem de minha idade. Tolice! Os pais nunca sabem nada, e quando sabem não compreendem; estão perto e longe demais para entender. Ele, esse pai de quem ela falava tanto, não acreditaria se a visse entrar pela primeira vez em minha casa, como entrou, com sua bolsa a tiracolo, o passo leve e o riso nervoso. "Como você pensava que eu fosse?" Lembro-me de que fiquei olhando, meio divertido, meio assustado, aquela mocetona loura e ágil que só falava me olhando nos olhos, e me fez as confissões mais íntimas e graves entremeadas de mentiras pueris — sempre me olhando nos olhos. Disse-me que a metade das coisas que me contara pelo telefone era pura invenção — e logo inventou outras. Senti que suas mentiras eram um jeito enviesado que ela tinha de se contar, um meio de dar um pouco de lógica às suas verdades confusas.
A ternura e o tremor de seu duro corpo juvenil, seu riso, a insolência alegre com que invadiu minha casa e minha vida, e suas previsíveis crises de pranto — tudo me perturbou um pouco, mas reagi. Terei sido grosseiro ou mesquinho, terei deixado sua pequena alma trêmula mais pobre e mais só?
Faço-me estas perguntas, e ao mesmo tempo me sinto ridículo em fazê-las. Essa moça tem a vida pela frente, e um dia se lembrará de nossa história como de uma anedota engraçada de sua própria vida, e talvez a conte a outro homem olhando-o nos olhos, passando a mão pelos seus cabelos, às vezes rindo — e talvez ele suspeite de que seja tudo mentira.
Eu a levara até o elevador, ao mesmo tempo aflito para que ela partisse e triste com a sua partida. Nossa conversa fora amarga. Quando lhe abri a porta do elevador esbocei um gesto de carinho na despedida, mas, como eu previra, ela resistiu. Pela abertura da porta vi sua cabeça de perfil, séria, descer, sumir.
Agora sentia necessidade de vê-la sair do edifício, mas o elevador deve ter parado no caminho, porque demorou um pouco a surgir seu vulto rápido. Desceu a escada fez uma pequena volta para evitar uma poça de água, caminhou até a esquina, atravessou a rua. Vi-a ainda um instante andando pela calçada da transversal, diante do café; e desapareceu, sem olhar para trás.
"Valente menina!" — foi o que murmurei ao acaso lembrando um verso antigo de Vinicius de Moraes; e no mesmo instante me lembrei também de uma frase ocasional de Pablo Neruda, num domingo em que fui visitá-lo em sua casa de Isla Negra, no Chile. "Que valientes son las chilenas!" dissera ele, apontando uma mulher de maiô que entrava no mar ali em frente, na manhã nublada; e explicara que estivera andando pela praia e apenas molhara os pés na espuma: a água estava gelada, de cortar.
"Valente menina!" Lá embaixo, na rua, era tocante seu pequeno vulto, reduzido pela projeção vertical. Iria com os olhos úmidos ou sentiria apenas a alma vazia? "Valente menina!" Como a chilena que enfrentava o mar, em Isla Negra, ela também enfrentava sua solidão. E eu ficava com a minha, parado, burro, triste, vendo-a partir por minha culpa.
Deitei-me na rede, sentindo dor de cabeça e um certo desgosto por mim mesmo. Eu poderia ser pai dessa moça — e me pergunto o que sentiria, como pai, se soubesse de uma aventura sua, como essa, com um homem de minha idade. Tolice! Os pais nunca sabem nada, e quando sabem não compreendem; estão perto e longe demais para entender. Ele, esse pai de quem ela falava tanto, não acreditaria se a visse entrar pela primeira vez em minha casa, como entrou, com sua bolsa a tiracolo, o passo leve e o riso nervoso. "Como você pensava que eu fosse?" Lembro-me de que fiquei olhando, meio divertido, meio assustado, aquela mocetona loura e ágil que só falava me olhando nos olhos, e me fez as confissões mais íntimas e graves entremeadas de mentiras pueris — sempre me olhando nos olhos. Disse-me que a metade das coisas que me contara pelo telefone era pura invenção — e logo inventou outras. Senti que suas mentiras eram um jeito enviesado que ela tinha de se contar, um meio de dar um pouco de lógica às suas verdades confusas.
A ternura e o tremor de seu duro corpo juvenil, seu riso, a insolência alegre com que invadiu minha casa e minha vida, e suas previsíveis crises de pranto — tudo me perturbou um pouco, mas reagi. Terei sido grosseiro ou mesquinho, terei deixado sua pequena alma trêmula mais pobre e mais só?
Faço-me estas perguntas, e ao mesmo tempo me sinto ridículo em fazê-las. Essa moça tem a vida pela frente, e um dia se lembrará de nossa história como de uma anedota engraçada de sua própria vida, e talvez a conte a outro homem olhando-o nos olhos, passando a mão pelos seus cabelos, às vezes rindo — e talvez ele suspeite de que seja tudo mentira.
Biografia e crônica de Machado de Assis
Machado de Assis:
Joaquim Maria
Machado de Assis nasceu na cidade do Rio de Janeiro no dia 21 de Junho de 1939.
Seus pais eram Francisco José de Assis e Maria Leopoldina Machado de Assis, mas
perdeu a mãe muito cedo , sendo assim criado também pela madrasta Maria Inês.
Quando cresceu, se tornou
um típico homem das letras bem sucedido, sendo reconhecido em todo o país. Ele
se casou com uma mulher chamada Carolina, que morreu em 1904. O Mario dedicou-a
o soneto “Carolina” , que a celebrizou.
Fuga
do hospício
Por Machado de Assis
A fuga de doidos do hospício é mais grave do que pode parecer à primeira
vista. Não me envergonho de confessar que aprendi algo com ela, assim como que
pedi uma das escoras da minha alma. Este resto de frase é obscuro, mas eu não
estou agora para emendar frases nem palavras. O que for saindo saiu, e tanto
melhor se entrar na cabeça do leitor.
Ou confiança nas leis, ou confiança nos homens, era convicção minha de
que se podia viver tranquilo fora do Hospício dos alienados. No Bond, na
sala, na rua, onde quer que se me deparasse pessoa disposta a dizer histórias
extravagantes e opiniões extraordinárias, era meu costume ouvi-la quieto. Uma
ou outra vez sucedia-me arregalar os olhos involuntariamente, e o interlocutor,
supondo que era admiração, arregalava também os seus, e aumentava o concerto do
discurso. Nunca me passou pela cabeça que fosse um demente. Todas as histórias
são possíveis, todas as opiniões respeitáveis. Quando o interlocutor, para
melhor incutir uma ideia ou um fato, me apertava muito o braço ou me puxava com
força pela gola, longe de atribuir o gesto a simples loucura transitória,
acreditava que era um modo particular de orar ou expor. O mais que fazia, era
persuadir-me depressa dos fatos e das opiniões, não só por ter os braços mui
sensíveis, como porque não é com dois vinténs que um homem se veste neste
tempo.
Assim vivia, e não vivia mal. A prova de que andava certo, é que não me
sucedia o menor desastre, salvo a perda da paciência; mas a paciência
elabora-se com facilidade; - perde-se de manhã, já de noite se pode sair com
dose nova. O mais corria naturalmente. Agora, porém, que fugiram doidos do
hospício e que outros tentaram fazê-lo (e sabe Deus se a esta hora já o terão
conseguido), perdi aquela antiga confiança que me fazia ouvir tranquilamente
discursos e notícias. É o que acima chamei uma das escoras da minha alma. Caiu
por terra o forte apoio. Uma vez que se foge do hospício dos alienados (e não
acuso por isso a administração) onde acharei método para distinguir um louco de
um homem de juízo? De ora avante, quando alguém vier dizer-me as coisas mais
simples do mundo, ainda que não me arranque os botões, fico incerto se é pessoa
que se governa, ou se apenas está num dqueles intervalos lúcidos, que permitem
ligar as pontas da demência às da razão. Não posso deixar de desconfiar de
todos.
A própria pessoa – ou para dar mais claro exemplo, - o próprio leitor
deve desconfiar de si. Certo que o tenho em boa conta, sei que é ilustrado,
benévolo e paciente, mas depois dos sucessos desta semana, que lhe afirma que
não saiu ontem do hospício? A consciência de lá não haver entrado não prova
nada; menos ainda de ter vivido desde muitos anos, com sua mulher e seus
filhos, como diz Lulu Sênior*. É sabido que a demência dá ao enfermo a visão de
que um estado estranho e contrário à realidade. Que saiu esta madrugada de um
baile? Mas os outros convidados, os próprios noivos que saberão de si? Podem
ser seus companheiros da Praia Vermelha. Este é o meu terror. O juízo passou a
ser uma probabilidade, uma eventualidade, uma hipótese.
Isto, quanto à segunda parte da minha confissão. Quanto à primeira, o
que aprendi com a fuga dos infelizes do hospício, é ainda mais grave que a
outra. O cálculo, o raciocínio, a arte com que procederam os conspiradores da fuga,
foram de tal ordem, que diminuiu em grande parte a vantagem de ter juízo. O
ajuste foi perfeito. A manha de dar pontapés nas portas para abafar o rumor que
fazia Serrão arrombando a janela do seu cubículo, é uma obra prima; não
apresenta só a combinação de ações para o fim comum, revela a consciência de
que, estando ali por doidos, os guardas os deixariam bater à vontade, e a obra
da fuga iria ao cabo, sem a menor suspeita. Francamente, tenho lido, ouvido e
suportado coisas muito menos lúcidas.
Outro episódio interessante foi a insistência de Serrão em ser submetido
ao tribunal do júri, provando assim tal amor da absolvição e conequente
liberdade que faz entrar em dúvida se se trata de um doido ou de um simples
réu. Não repito o mais, que está no domínio público e terá produzido sensações
iguais às minhas. Deixo vacilante a alma do leitor. Homens tais não parecem
artífices de primeira qualidade, espíritos capazes de levar a cabo as questões
mais complicadas deste mundo?
Não quero tocar no caso de Paradeda Júnior, que lá vai mar em fora, por
achá-lo tardio. Meio século antes, era um bom assunto de poema romântico.
Quando, alto mar, o infeliz revelasse, por impulsão repentina, o seu verdadeiro
estado mental, a cena seria terrível, e a inspiração germânica, mais que
qualquer outra, acharia aí uma bela página. O poema devia chamar-se “Der
narrische Schiff” (A nau dos insensatos). Descrição do mar, do navio
do céu; a bordo, alegria e confiança. Uma noite, estando a lua em todo o
esplendor, um dos passageiros contava a batalha de Leipzing ou recitava uns
versos de Uhland (poeta alemão). De repente, um salto, um grito, tumulto,
sangue: o resto seria o que Deus inspirasse ao poeta. Mas, repito, o assunto é
tardio.
De resto, toda esta semana foi de sangue, - ou por política, ou por
desastre, ou por desforço pessoal. O acaso luta com o homem para fazer sangrar
a gente pacata e temente a Deus. No caso de Santa Teresa, o cocheiro evadiu-se
e começou o inquérito. Como os feridos não pedem indenização à companhia, tudo
irá pelo melhor no melhor dos mundos possíveis. No caso da Copacabana, deu-se a
mesma fuga, com a diferença que o autor do crime não é o cocheiro; mas a fuga
não é privilégio do ofício, e, demais, o criminoso já está preso. Em Manhuaçu
continua a chover sangue, tanto que marchou para lá um batalhão daqui. O
comendador Ferreira Barbosa (a esta hora assassinado) em carta que escreveu ao
diretor da Gazeta e foi ontem publicada, conta minunciosamente
o estado daquelas paragens. Os combates têm sido medonhos. Chegou a haver
barricadas. Um anônimo declarou pelo Jornal do Comércio que,
se a comarca de S. Francisco tornar à antiga província de Pernambuco, segundo
propôs o Sr. Senador João Barbalho, não irá sem sangue. Sangue não tarda a
escorrer do jovem Estado (peruano) do Loreto...
Enxuguemos a alma. Ouçamos, em vez de gemidos, notas de música. Um grupo
de homens de boa vontade vai dar-nos música velha e nova, em concertos
populares, a preço cômodo. Venham eles, venham continuar a obra do Clube
Beethoven, que foi por tanto tempo o centro das harmonias clássicas e modernas.
Tinha de acabar, acabou. Os Concertos popularestambém acabarão um
dia, mas será tarde, muito tarde, se considerarmos a resolução dos fundadores,
e mais a necessidade que há de arrancar a alma ao tumulto vulgar para a região
serena e divina...Um abraço ao Dr. Luís de Castro.
Pela minha parte, proponho que, nos dias de concerto, a Companhia do
Jardim Botânico, excepcionalmente, meta dez pessoas por banco nos bonds elétricos,
em vez das cinco atuais. Creio que não haverá representação à Prefeitura, pois
todos nós amamos a música; mas dado que haja, o mais que pode suceder, é que a
prefeitura mande reduzir a lotação a quatro pessoas do contrato; em tal
hipótese, a companhia pedirá como agora, segundo acabo de ler, que a Prefeitura
reconsidere o despacho, - e as dez pessoas continuarão, como estão continuando
as cinco. Há sempre erro em cumprir e requerer. Quanto ao método, é muito
melhor que tudo se passe assim, no silêncio do gabinete, que tumultuosamente na
rua: Não pode! Não pode!
Assinar:
Postagens (Atom)